Quando se gosta de jogos, é difícil estabelecer limites entre a importância dos mesmos e o seu interesse pessoal.
Por conta disto decidi neste blog iniciar uma serie de postagens que compartilham esta paixão e deixar que o leitor decida se estou certo ao pensar nos jogos como uma das mais eficientes formas de aprendizado e exposição cultural da humanidade ou se isso se trata apenas de devaneios de quem delineia essas linhas.
“Deus quis que os homens se divertissem com muitos jogos, pois eles trazem conforto e dissipam as preocupações”
Há quase oitocentos anos o rei Afonso X, de leão e castela, escreveu essas palavras no prefacio de seu “livro dos jogos”
Em plena idade média, esse soberano entendeu o que muitos povos da antiguidade já haviam compreendido: a importância dos jogos como manifestação cultural, propulsor do desenvolvimento intelectual e ferramenta de transferência de conhecimento entre gerações.
Ao reunir informações sobre os jogos conhecidos na época em seu livro, Afonso X deixa para a posteridade o testemunho de que estes são um patrimônio cultural e uma manifestação da genialidade criativa da humanidade, independentemente de fronteiras políticas, religiosas ou culturais.
Analisando o modo de vida primitivo, encontramos profundas semelhanças entre os primeiros povos, dando um caráter universal aos seus modos, podemos observar tal característica nos jogos, razão pela qual podemos considerá-los uma criação do coletivo humano de diferentes épocas.
No contexto de transferir conhecimento jogos que hoje não passam de uma alegre e divertida atividade infantil, são reminiscências de rituais considerados mágicos ou religiosos quase tão antigos quanto o próprio homem.
O cabo de guerra por exemplo, é uma dramatização simbólica entre homens e as forças da natureza. A amarelinha brincadeira tradicional global tem suas raízes nos mitos dos labirintos e nos ritos de passagem dos espíritos, aspecto que encontramos também no senet.
O xadrez, o hnefatafl e outros incontáveis jogos, representam embates entre forças que reconstituem batalhas e que permitem não apenas o aprendizado de princípios táticos e estratégicos, mas o enriquecimento intelectual.
Podemos, portanto, aceitar que jogos não se resumem a diversão, mas sendo um reflexo da alma humana, que é externalizada através de regras, peças, cartas, dados ou tabuleiros e que apresentam uma somatória da humanidade como um todo.